A paródia, definida pelo dicionário como
sendo uma imitação cômica de uma composição literária. É uma característica que
se faz cada vez mais presente nos textos atuais. O estilo de muitos jornalistas
e publicitários, além de parafrástico, é também entremeado de paródias.
Para se entender uma paródia, é necessário o
conhecimento do texto ou textos originais que tornaram possível a imitação.
Nesse sentido, podemos afirmar que não pode existir uma paródia que não
dialogue com o texto-matriz, ou seja, sempre existe entre este e a paródia o
que os estudiosos da linguagem denominam intertextualidade.
Veja um exemplo de paródia
Texto-matriz: O lobo e o
cordeiro
Vendo um lobo que certo cordeirinho matava a sede
num regato, imaginou um pretexto qualquer para devorá-lo. E embora se achasse
mais acima, acusou-o de sujar a água que bebia. O cordeiro explicou-lhe que
bebia apenas com a ponta dos beiços e, além disso, estando mais abaixo, nunca
poderia turvar-lhe o líquido. O lobo, exposto ao ridículo, insistiu:
— No ano passado, ofendeste meu pai.
— No ano passado, eu não tinha
nascido, replicou o cordeiro.
O lobo então:
— Defendeste-te muito bem, mas nem
por isso deixarei de comer-te!
De que vale a defesa perante quem quer
fazer o mal?
Esopo, Enciclopédia Mundial de fabulas. Vol III.
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Paródia
Texto derivado: O lobo e
o cordeiro
Estava
o cordeiro bebendo água, quando viu refletida, no rio, a sombra do lobo.
Estremeceu, ao mesmo tempo, que ouvia a voz cavernosa:
- Vais
pagar com a vida o teu miserável crime.
- Que
crime? — perguntou o cordeirinho tentando ganhar tempo, pois já sabia que com
lobo não adianta argumentar.
- O
crime de sujar a água que eu bebo.
- Mas
como posso sujara a água que bebes se sou lavado diariamente pelas máquinas
automáticas da fazenda? — Indagou o cordeirinho.
Por
mais limpo que esteja um cordeiro é sempre sujo para um lobo.
- E
vice-versa. — pensou o cordeirinho, mas disse apenas: - Como posso sujar a
sua água se estou abaixo da corrente?
- Pois
se não foi você foi seu pai, foi sua mãe ou qualquer outro ancestral e eu vou
comê-lo de qualquer maneira, pois como rezam os livros de lobologia, eu só me
alimento de carne de cordeiro — finalizou o lobo preparando-se para devorar o
cordeirinho.
Ein
moment! Ein moment — gritou o cordeirinho traçando seu alemão kantiano. - Dou-lhe
toda razão, mas faço-lhe uma proposta: se me deixar livre, atrairei para cá
todo o rebanho.
- Chega
de conversa — disse o lobo — vou comê-lo logo, e está acabado.
Espera
aí — falou o cordeiro — isso não é ético. Eu tenho, pelo menos, direito a
três perguntas.
- Está
bem — cedeu o lobo irritado com a lembrança do código milenar da jungle.
— Qual
é o animal mais estúpido do mundo?
- O
homem casado — respondeu prontamente o cordeiro.
- Muito
bem, muito bem! — disse o lobo, logo refreando, envergonhado, o súbito
entusiasmo.
- Outra:
a zebra é um animal branco de listras pretas ou preto de listras brancas?
- Um
animal sem cor pintado de preto e branco para não passar por burro —
respondeu o cordeirinho.
- Perfeito!—
disse o lobo engolindo em seco. - Agora, por último, diga uma frase de
Bernard Shaw.
- Vai
haver eleições em 66 — respondeu logo o cordeirinho mal podendo conter o riso.
- Muito bem, muito certo, você escapou! — deu-se o lobo por vencido. E já ia
se preparando para devorar o cordeirinho quando apareceu o caçador e o
esquartejou.
Moral: Quando o lobo tem fome não deve se meter
em filosofias
Millôr Fernandes. Fábulas Fabulosas
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