terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Paródia


A paródia, definida pelo dicionário como sendo uma imitação cômica de uma composição literária. É uma característica que se faz cada vez mais presente nos textos atuais. O estilo de muitos jornalistas e publicitários, além de parafrástico, é também entremeado de paródias.

Para se entender uma paródia, é necessário o conhecimento do texto ou textos originais que tornaram possível a imitação. Nesse sentido, podemos afirmar que não pode existir uma paródia que não dialogue com o texto-matriz, ou seja, sempre existe entre este e a paródia o que os estudiosos da linguagem denominam intertextualidade.

Veja um exemplo de paródia

Texto-matriz: O lobo e o cordeiro
Vendo um lobo que certo cordeirinho matava a sede num regato, imaginou um pretexto qualquer para devorá-lo. E embora se achasse mais acima, acusou-o de sujar a água que bebia. O cordeiro explicou-lhe que bebia apenas com a ponta dos beiços e, além disso, estando mais abaixo, nunca poderia turvar-lhe o líquido. O lobo, exposto ao ridículo, insistiu:
— No ano passado, ofendeste meu pai.
—   No ano passado, eu não tinha nascido, replicou o cordeiro.
O lobo então:
—   Defendeste-te muito bem, mas nem por isso deixarei de comer-te!
 De que vale a defesa perante quem quer fazer o mal?
Esopo, Enciclopédia Mundial de fabulas. Vol III.

Paródia

Texto derivado:  O lobo e o cordeiro
Estava o cordeiro bebendo água, quando viu refletida, no rio, a sombra do lobo. Estremeceu, ao mesmo tempo, que ouvia a voz cavernosa:
- Vais pagar com a vida o teu miserável crime.
- Que crime? — perguntou o cordeirinho tentando ganhar tempo, pois já sabia que com lobo não adianta argumentar.
- O crime de sujar a água que eu bebo.
- Mas como posso sujara a água que bebes se sou lavado diariamente pelas máquinas automáticas da fazenda? — Indagou o cordeirinho.
Por mais limpo que esteja um cordeiro é sempre sujo para um lobo.
- E vice-versa. — pensou o cordeirinho, mas disse apenas: - Como posso sujar a sua água se estou abaixo da corrente?
- Pois se não foi você foi seu pai, foi sua mãe ou qualquer outro ancestral e eu vou comê-lo de qualquer maneira, pois como rezam os livros de lobologia, eu só me alimento de carne de cordeiro — finalizou o lobo preparando-se para devorar o cordeirinho.
Ein moment! Ein moment — gritou o cordeirinho traçando seu alemão kantiano. - Dou-lhe toda razão, mas faço-lhe uma proposta: se me deixar livre, atrairei para cá todo o rebanho.
- Chega de conversa — disse o lobo — vou comê-lo logo, e está acabado.
Espera aí — falou o cordeiro — isso não é ético. Eu tenho, pelo menos, direito a três perguntas.
- Está bem — cedeu o lobo irritado com a lembrança do código milenar da jungle.
— Qual é o animal mais estúpido do mundo?
- O homem casado — respondeu prontamente o cordeiro.
- Muito bem, muito bem! — disse o lobo, logo refreando, envergonhado, o súbito entusiasmo.
- Outra: a zebra é um animal branco de listras pretas ou preto de listras brancas?
- Um animal sem cor pintado de preto e branco para não passar por burro — respondeu o cordeirinho.
- Perfeito!— disse o lobo engolindo em seco. - Agora, por último, diga uma frase de Bernard Shaw.
- Vai haver eleições em 66 — respondeu logo o cordeirinho mal podendo conter o riso. - Muito bem, muito certo, você escapou! — deu-se o lobo por vencido. E já ia se preparando para devorar o cordeirinho quando apareceu  o caçador e o esquartejou.
Moral: Quando o lobo tem fome não deve se meter em filosofias
Millôr Fernandes. Fábulas Fabulosas

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